Eu estou com saudade.
Saudade dos meus pais, do meu irmão e da minha avó querida.
Estou com saudade da minha casa, onde cresci e fui criada, cheia de memórias, lembranças e amor.
Estou com saudade dos meus cães, do meu querido filhote que morreu.
Estou com saudade dos tardes quentes assistindo "Sessão da tarde" com o ventilador ligado, deitada no sofá.
E de sair para tomar sorvete com minhas amigas de infância.
Estou com saudade da tranquilidade da pequena cidade do interior; de não ter muito com o que me preocupar...
Estou com saudade da polenta fresquinha que minha avó faz e do arroz com cheiro de alho frito da minha mãe.
Estou com saudade do meu pai falando com voz de criança e me abraçando até quase esmagar.
E do meu irmão, meu melhor amigo, pra eu apertar, mimar, abraçar e beijar até ele falar estressado "pára, Laliii!"
Estou com saudade do meu tempo livre que podia dedicar à tardes e noites inteiras de leitura, mergulhadas em livros e segredos, sem ter que colocar o relogio para despertar para me avisar de um outro compromisso.
Estou com saudade de ir ao supermercado fazer compras para a casa.
De andar pelo centro da cidade - que se resume a umas 5 ruas.
Das minhas aulas de natação, das tardes na academia, do namorico nos finais de semana, das festas no clube.
Estou com saudade da vida que eu levava porque era doce e linda.

Deve haver um propósito maior para toda vez que eu finalmente pareço gostar de alguém e estar disposta a me entregar ao que sinto, não dar certo.
E isso não me deixa mau, na verdade.
Fico com a consciência tranquila por ter a certeza que fui eu mesma e que estava totalmente aberta e disponível para aquele momento.
Fico tranquila em saber que a vida toma caminhos, muitas vezes, incompreendidos, para no final, sempre te dar o que você merece. E eu sei que mereço.
Então fico calma e serena. Sei que o que é meu está guardado e que o melhor ainda está por vir.
Pode ser sim que isso demore a acontecer, mas ainda tenho a juventude a meu favor, ainda tenho muito a viver, muitas coisas a fazer, muitas pessoas a conhecer e eu sei que cada episódio é um aprendizado.
Mas não pense que por não ter dado certo -mais uma vez- não me entregarei, outra e outra vez para o que eu sinto. Eu resolvi viver tudo que me é dado.

E mais uma vez eu disse não.
Pode haver quem me diga: "Por que? Você está louca? Não era o que você sempre quis: encontrar alguém que te amasse pelo que você é, que fosse louco apaixonado por você?
E eu vou responder que sim. Era exatamente isso que eu queria. Ainda quero.
E você vai rebater com argumentos não fundamentados sobre como as mulheres são difíceis.
E eu simplesmente vou dizer: Era exatamente isso que eu queria, mas falta uma coisa para ser do jeito como eu quero: eu também sentir isso.
E enquanto eu não superar aquele velho amor do passado e não sentir por outro o que ainda sinto por ele, continuarei dizendo "não".
Pode ser teimosia, orgulho, fantasia... Pode ser qualquer coisa, na verdade, e eu não me importo com isso.
O não está doendo em mim também, mas eu não posso ir contra o que meu coração diz.
E se eu acabar sozinha, no final das contas, posso até tentar imaginar como seria minha vida se tivesse dito esse ou aquele "sim", mas não me arrependerei porque em cada um dos momentos em que disse "não", era o que meu coração me dizia para fazer. E portanto, se, simplesmente não acontecer, eu vou aceitar e entender que não era para ter acontecido.
Pode parecer uma forma determinista demais de se encarar a vida, mas o que eu penso é exatamente isso: pessoas vem e vão em nossa vida todas com um propósito, nada acontece por acaso e o que é para ser, sempre será, não importa quanto tempo isso leve para acontecer.

Ela pensou que o que ela sentira havia passado.
Pensou que o tempo tinha levado consigo a paixão que nutria por ele.
Pensou que a vida tinha, finalmente, voltado ao normal, aquilo de sempre. Faculdade, trabalho, festas, bebidas,  cigarro, amigos, aventuras e mais aventuras.
Mas pensou errado.
Quando ela o viu, depois de longos meses, percebeu que ele ainda vivia dentro dela. Que nunca tivera morrido, só estava ali, guardado e sendo sufocado por ela. Não que esta fosse a vontade dela, porque não era - ao contrario, tudo que ela mais queria era gritar ao mundo e, principalmente, a ele, que ela o amava, que com ele, ela casaria, teria filhos, viraria dona de casa, se arrumaria toda noite para esperá-lo, largaria tudo, carreira, sucesso, dinheiro...Mas a verdade é que para ele, ela provavelmente nunca tivera passado de uma amiga, uma boa amiga e o fato era que agora ele não estava mais sozinho, tinha encontrado alguém. E o pior, esse alguém o estava fazendo feliz e ele estava apaixonado. Se ela fosse só amiga dele, vibraria de felicidade ao saber que ele estava feliz, mas não! Ela não queria ser só a amiga dele, ela queria que fosse ela a pessoa que o fizesse feliz, que fosse para ela que ele ligasse para dizer "eu te amo". E em vão, mais uma vez, ela tentou disfarçar. Fazer de conta que estava ali pelos amigos, pela oportunidade, pela saudade... e era saudade sim, saudade dele, saudade do tempo que eles passavam os dias juntos, saudade do sorriso dele...
Ao final, teve que mentir, mais uma vez, falando que achava que tudo o que ela tivera sentido por ele algum dia, já tivesse passado, ficado no tempo. Mas era mentira! A maior mentira do mundo, porque tudo que ela queria era ficar ali, parada, sentada com ele naquela mesa de bar, só com ele, eternizando o momento, aquele momento.
E então concordaram em ir embora, cada um para o seu lado, ele tinha que ver a namorada, ela tinha que sair na noitada. Levantaram, pagaram a conta, se despediram com um abraço na esquina e com a promessa de que se veriam no dia seguinte. Ele a convidou para tomar café da manhã, confirmou o numero de celular dela, combinavam de irem a praia. Ela disse: "Amanhã a gente se liga". Ele respondeu: "Amanhã a gente se vê." Parece coisa de adolescente boba, mas o coração dela tremeu e ficou feliz. Ela espera por aquilo, ela continuava esperando por ele.